quarta-feira, 27 de abril de 2011

Para aprender

Eu tenho uma coisa pra você
O  silêncio
mas ouça-o muito bem
até seus ouvidos acostumarem-se com o zumbido
o zumbido do vazio!
até você começar a sentir falta
até de você mesmo
do desespero
dos percevejos
do irritante
do irritado
do enteado
até que o silêncio o cale
por completo
até o instante em que finalmente
pare de ouvir a você mesmo
Ai terei uma coisa pra você
O Barulho
atordoante, agonizante
DESCOMUNAL
tanta gente, tantas vozes
tantas besteiras, canseiras
lamentos, certezas
crises, fofocas
rádios novas
shows antigos
piriri, trátrátrá
um barulho tão absurdo
tão boçal, tão barulho
que perde-se todos os rumos
Ai trarei a lembrança
e você viveu o pleno silêncio
o quieto.
e nele - se for dos espertos-
terá encontrado a cura do barulho
o rastro, a deixa, a margem
terá encontrado a chave dos gloriáveis
E, enfim, terei uma coisa por você.


I.G.

domingo, 3 de abril de 2011

Nada acontece

Nada acontece
e as crianças morrem de fome
o frio assombra e a seca fala em seu nome
a cidade brinca de esconde-esconde
e os bueiros de engolir a gente
a gente surta por besteira
e somos bestas pertinentes
por esquecer de cada horror

Nada acontece
e os carros param nos telhados
os inocentes são presos
sem deixar um recado
os núcleos alterados
as peles enrugadas
as partes perdidas em meio
a um ciclo de desgraças

Nada acontece
e os olhares pairam distraídos
jogam lixo, mijo e pinicos
jogam conversa fora
e só não nos jogam
porque são olhares nossos

Nada acontece
e as pessoas querem viver
e o que prevalece
em meio a tantas preces
não é a vida
mas a vontade de sobreviver


Nada acontece
e as pessoas sofrem inquietas
e não se vê um sinal qualquer
de que o dia já se foi
porque nada acontece.
ou porque tudo acontece sem nada ser feito.

I.G.