domingo, 23 de junho de 2013

Ensaios de escrita teatral

Dois atores em cena, palco vazio. A princípio os  dois permanecem "congelados" (virados para a plateia) até que uma das personagens "explode" :

Personagem 1: Essa letra ;]
Personagem 2: Essa letra ;]


Estou cheia!
Desculpe-me, satisfeita.
Satisfeita de tanto vazio,
quanto mais escutam meus olhos
mais meus ouvidos choram.
Quanto vazio!


Quanto, quanto e quanto
Promessas sussusros, espantos.
Quanto, quanto e quanto
Remessas, abusos e entretantos


Quanto, quanto e quanto?
Não enxerga o porque de seu pranto?




Meu pranto não vem do  físico.
Não, não vem das ruas, dos bares
Não, não vem das luas, dos lares
Vem das suas, dos olhares
Daquilo que deixou de  ser místico
Daquilo que se tornou o cínico




Calúnia!
Seu choro? Não tem nada comigo
Nada com o mundo
É choro vaidoso
Vagabundo!


Tão incoerente, tão absurdo
Tão abismo, tão sem fundo
Que não move, não mexe
Não comove, nem convence


Isso! Faça descaso
Zombe do tormento
Esqueça. Enfraqueça
Aquilo que te culpa
Condena.


Condenado?
Eu é que  te condeno!
Por sofrimentos belos
com fundamentos,
mas sem qualquer tentativa
de invertê-los


Não se engane, eu tento
Tento sendo e assim sou
Ao contrário do nada
que te  habita e que orbita
por toda indiferença
que há em suas ações
que há no seu sem fundo


Seus latidos não assustam
Pelo contrário: provam
Que venci, que  triunfo
E que meus  trunfos
tem raízes


Suas raízes são abutres
Seus trunfos, rasteiras
E se triunfa, se vence
É por calos alheios


Se assuste!
Pois mesmo você
já me escuta
e não há pedra
que aprove
seu legado


Não quero aprovações
Dou-me por satisfeito
Com as falsidades alheias
Com a cordialidade fingida
e estúpida
dessa gente súdita


Quero deles nada a mais
do que consegui de  você
que me deixem viver
que me vejam vantagem
e que me sejam vaidade


Quero desse império
o mais nobre dossiê
quero nesse cemitério
o mais pobre clichê


É assim que me vê?
sou vaidade?


[Flash back] cena 1 "congela", entram 2 outros atores


Não existia amor
Era uma fuga absurda
Da realidade absoluta
Que era a  falta de amor

Não seja ingênua
Não era fuga
Nem se quer uma luta
Era o medo de ficarem nuas

Que besteira!
Não era consciente
ou seria demente
toda essa peneira

Então, ainda acredita?
Nessa moral maldita
que te juram bonita
mas que se mostra ilícita

Retoma-se a cena 1

É. Você é vaidade
você é nostalgia
você é identidade
você é regalia

Inicia-se uma cena 3, mais 2 atores no palco

O que foi que fez?
Criou permutas
tão energúmenas
a troco de quê?

De um cargo mixuruca
uma garota estúpida
e mais três bombonieres?

Pare de graça
sabe que a trapaça
também lhe cai bem

Cansei da sua hipocrisia
dessa sua ladainha:
"só uma pessoa fria
aceitaria tal companhia"

Aquela mulher é desumana
é serpente, é agouro
É daquelas que nos olhos
só se enxerga o demônio
Ela fará de você
um pobre vintém
E eu vou rir
sem mais poréns

Só espero que rasteje
que suje sua boca
na lama de outro trouxa
que sofra, que pene
que destrua esse louco
que está na sua mente

Início de uma quarta cena ( mais  dois personagens no palco):


Como sou ridícula
E como são ridículos os meus sentimentos
Eles viajam por todo o meu corpo
Conturbam todos os meus pensamentos
Oscilam, transbordam, concentram
Clareiam, espandem, mutam a cada instante
Matam-me de intensidade
E não saem de mim
E não atingem mais ninguém
E não luzem reciprocidade
Ah, sentimentos, que insistência no ilusório!
Ah, babozeiras, que imbatível retórica!
Não quero mais esse estranho que mora em mim

Assassina a esperança
Assassina o pavor
Assassina a criança
Assassina o amor
Morreu o libido


domingo, 19 de maio de 2013

Ontem


 Restam dos meus sentidos
Preenchimentos seus
Dos olhos
 nossos fundos
E desse mergulho
O sentir

 E apesar de absurdo
dizer saudades
a quem ontem vi
digo saudades
pois saudades
é o que tenho a digerir

I.G.

Medo

Olhe meu amor, um dragão a nossa frente
Olhe meu amor, um monstro eloquente
Olhe meu amor, um navio naufragando
pelas algas desse mar

Olhe o inimigo, nossas mãos dadas com o perigo
Olhe nossas costas, não restou abrigo
Os nossos passos se entrelaçam
embriagados no invisível
                                       visível
invisível                 visível
               invisível
      visível
in             visível

 Visível
bem visível
visível
estampado
na minha face
se afaste

I.G.

Quem


Genial quem matou a saudade pela primeira vez
Embalado pelos desgastes que essa à alma fez.
Genial quem não disse nada e soube de tudo
Quem criou coragem e destruiu os muros
Genial quem a distância aproximou
Genial, quem com a genialidade não se importou. 

I.G.