quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Limpo

Descobri
nos descuidos da vida
o andar descoberta

Nua mesmo

Despida de corpo
crua de mente
repleta de nada

E assim revivi
os realces da alma.

I.G.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Alento

Não só o céu
Nem só ali, ou lá
Ou isso ou aquilo
Mas tudo o que minha vista alcança
é uma visita a  você
É um olhar meu
querendo que tudo o tenha
e que tudo seja
uma lembrança de ti
Mas na verdade
te encontro aqui
na minha vontade de estar ai
No meu ir e vir a sonhos abissais
No meu peito apertado
E no alento suspeito
que sua alma me trás.

I.G.

sábado, 27 de outubro de 2012

Rio de Janeiro

O fedor tomou até o tato
e a visão seleta
causo-me má impressão
mas atrás do primeiro muro
vinha o primeiro dos mundos
que eu viria a perceber
o garoto soltando pipa
a moça se achando bonita
o homem pedindo birita
e o velhote sentado na esquina
sem ter maiores porquês
e depois de uns dois, três passos
vem o antigo, o restrito, o legado
a história vive por entre os camelôs
e os meninos picham a careca do senhor
gente na labuta, gente carrancuda
gente sorridente, vi até presidente
gente faminta, gente extinta
mais gente que gentileza
mais gente que genuinidade
mais gente que  jenipapo
e passa o ônibus, o metrô
o trem, a balsa, a bike
o dia, a noite, a madrugada
homem pássaro
homem árduo
homem desarmado
perante as regras da espontaneidade
As ruas contrastam com os gramados
e os prédios com os morros
E fora os alvoroços
ainda se vê um certo esforço
pra que a vida não se perca entre os pilotis
pra que as praias sejam mais que cartões postais do país
e a vista por todos os lados é bela
distinta, esplêndida, tagarela
Virando a  ruela
vai-se do agito à mansidão
debruçando na janela
do corrido ao coração
na deriva corriqueira
do olhar peneira
faz-se uma leitura grosseira
que vai da comida a capoeira
em uns três ou quatro colibris
Das impressões tão belas
sobram parcelas
de alguns gestos de amor
e acende-se uma vela
pra que atrás dessa cidadela
não morra o sonhador.

I.G.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

monólogo

Sem troca
a boca fica oca
a mente fica manca
a perna fica bamba
o som não vira samba
a falta não é franca.

I.G.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Paradeiro

Você faz parte
e a sua parte
já está partida
e a minha partida
já é perene
e no perdurar
me pendurei
e no adiar
me emancipei

Agora livre
me prendi
me perdi
me procurei
me persegui
me postulei
num percevejo
num passarinho
num passeio
num peregrino
num pastelão
num paredão
num pergaminho.

I.G.

domingo, 10 de junho de 2012

Sincero

A gente sente
e só de sentir
já faz sentido

A gente se entrega
e não se apega
a nenhuma regra

A gente sofre
e se contorce
e se convence

A gente chora
e se conforta
e se aconchega

E a gente perdoa
mesmo que perdoar
seja perdurar nossa dor

I.G.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Democracia

A luta entra de luto
pela falta de disputa
pela falta de postura
pela falta que tritura
a essência desse ser

I.G.

queria

Eu queria um amor
que não inibisse
um amor a vontade
um amor cafonice 
um amor saudade
um amor doidice
que não idade
mas idiotice
que não caridade
mas chatice

eu queria assim
uma coisa pra mim
que cumplicidade
e não sonsice

I.G.

Bom senso

Tá vivo
mas se confunde
lá no fundo
ou no canfundé

Tá vivo
mas se esconde
entre o conde
e o contexto
entre o bonde
e o bocejo

Tá bem ali
mas pelo amor
mas por favor
tá bem ali
ao se dispor
sim senhor
crie coragem
crie vergonha
crie vontade
e o que se destoa

Crie na corrida
uma maratona

I.G.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

amoreco

Mãe, eu quero!
Desse mesmo jeito
Mas, mãe, todo mundo tem!
Nesse mesmo engano
Chora, grita, esperneia
Agoniza, sofre, faz drama
Tudo por um brinquedo
Tudo por um amor



Só muda a idade do consumidor.

I.G.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Amadurecer

E quem diria que um dia
um dia eu
eu que de criança
chorava até por lambança
eu que de criança
mal tive mudanças
eu que de criança
já esbanjava confiança
trança, dança
Ah lembranças
quem diria que um
um dia eu
que sofria a toa
que por tudo se magoa
que nasci pessoa
que me julgo boa
que nasci leoa
que me julgo proa
que tudo perdoa
e vive lagoa
quem?
quem diria que
um dia eu
que arruaça
que praça
que cachaça
que pirraça
que vidraça
que abraça
quem diria?
um dia eu
mulamba
bamba
samba
caramba
quem?
eu?
ambas.

I.G.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Incompátivel

Eu falo das pessoas
e você dos pesares
eu falo dos pesares
e você das pessoas

Eu digo a você
e você diz que digo contra você
Eu sinto por  você
e você diz que sente por mim

mas se é assim
o que há de errado por aqui?
Eu quero atenção
e você diz que eu desapareço
Eu quero atenção
mas quem recebe é Deus e o mundo
Eu quero atenção
e me sinto maluca

você só quer viver
e eu te entendo
e eu remendo
e eu sofrendo
conivente com a dor
conivente com o impor
do seu espírito algor
minto ai
seu espírito é calor
é autor
é sabor
e todo distante do meu dispor

por mais que você tente me mostrar o contrário
nunca serei a primeira que vem a sua mente
nunca serei a que toma conta do inconsciente
eu sei, eu sinto, e o que permito
não passa de um cassino
no qual já se sabe o perdedor
e já não sei o que é que me restou
e já não sei se você já me amou
e já não sei pra onde é que vou

Só sei que os dias passam
e que essa trapaça impensada
a tempos não me faz bem
a tempos não me convém
a tempos me faz refém.

I.G.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A morte da relevância


O império individualista chegou a tal ponto
a tal ponto
a tal ponto
que já nem conto mais

a tal ponto
que a ideia já vem pronta
que o inédito é imposto
e que o velho é  vergonhoso

a tal ponto
que não se  toma um posto
diante de alvoroços
que não caem bem

a tal ponto
que o relevante
torna-se insignificante
de tanto se dizer amém

até o ponto
em que os pontos
vão estourar de vez

I.G.

sábado, 31 de março de 2012

Sem palavras


Estou com vontade de escrever
mas a escrita não me  vem
e a falta de palavras
é a morte do eterno
e a falta de  registro
é a morte do continuo
e tudo o que se passa
vai morrer aqui comigo
num selo tão ingrato
quanto meu insensato
num selo tão bizarro
quanto meu escarro
e de imediato
esse é o meu contrato

I.G.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Vivendo pra sorrir

Meus distantes
viveram sem instantes
como viajantes
sem qualquer provir

Seguindo apenas
as velhas antenas
nas quais os mecenas
não vieram intervir

De guia a vontade
de tempo a saudade
buscando, não a verdade
mas um outro elixir

Da sombra o tracejo
do claro o bocejo
da vida o desejo
do mundo fugir

I.G.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Espelho

Não acredite na sorte
Qualquer caminho leva a morte.

I.G.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Eu: rio

O rio que me  tornei
não sabe mais pra onde ir
e as  terras que percorro
não avistam mar algum

Me separo de mim mesmo
em três mil indiferenças
me reencontro pelos cantos
colocando certos pontos

As margens me sufocam
me suplicam linhas retas
E por mais que eu me instigue
um rio sempre desce
um rio sempre desce

I.G.