domingo, 23 de outubro de 2011

Demência breve

É insano, é doentil, é surreal
mas sinto falta de quem não conheci
sinto falta de quem deveria estar aqui
é imaturo, é impreciso, é banal
mas dei risada do que iria ouvir
quis abraçar o que está por vir

Digam o que for
enlouqueci
é carência, demência
não me importa
Só importa que eu sei que é assim

Eu sei o que senti
a alucinação mais concreta que já vi
Ou o que iria virá, ou o que foi se desfaz
mas independente disso ou daquilo
naquele instante cresci

Mirei aquele olhar conhecidamente estranho
e tudo o que encontrarei me acolhia
e tudo o que farei me sorria
o futuro,por segundos, foi nostalgia

Lembrei do que será no agora
no hoje vi o amanhã como se fosse ontem
no já vi o depois como se fosse antes
com o carinho de quem queria mais do que vai ter

E não é nenhuma visão
é só uma prévia
uma amostra
mas também um lembrete
também um sonho

essa bomba de contato
de contrastes
de compassos
não vai ser
já se foi
mas com alguém que ainda virá
é tão estranho assim ?

é tão estranho que o estranho me seja comum?

é tão banana que o futuro seja o passado de alguns?

é tão cigano que o engano já me oferece rum!
como quem diz:
meu amigo, essa coisa de miragem
essa sua abordagem
é uma realidade bebum.
Espera... Não berra!
Que a vergonha é sacana
e você ainda vai me pedir mais um.

Mas não vacilo, não ocilo
que o sentir não é tão tolo.
E pro seu consolo
não será meu asilo
guardarei em sigilo
esse júbilo volúvel
que me domina!

Louco ou não
dormirei radiante
por que sou o que serei no que já fui
ao futuro que já fomos
um brinde!

I.G.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A falta.

Os outros tinham seu nome
os sons, seus trejeitos
os cheiros, seus braços
seus abraços
seus desembargos
seus aconchegos

As paredes rígidas
com os peitos colados
mostraram-se quebradiças
e as certezas, incrédulas

As vozes molhadas de sede
imploravam instantes
As vozes malandras de medo
inventavam mirantes

O pico de cada egoísmo
revelou-se criança
a busca por cada segredo
tornou-se insana
a vontade de cada pedaço
eterna lembrança

E as amarras daqueles sonhos
E as mordaças daqueles sopros
São a cachaça do meu efêmero
São a verdade do meu desapego
que é tão consolidado
tão bem estruturado
que sede aos seus afagos
que pede os seus cuidados.

I.G.

domingo, 9 de outubro de 2011

Casa encantada

Tínhamos ali a leveza das conversas sutis
Sem compromissos, sem amarras, sem patrocinadores
Cada palavra era como que inata
Vinha de dentro do umbigo de nossas concavidades
Vinha do gole de vinho com suspiros intercalados
Era corrente e inteligível até mesmo nos silêncios
Era a pureza do sinfônico
Uma mistura fascinante das fontes do espontâneo
Ali, bem ali, por alguns muitos instantes...
Poderia eu dizer abobrinha querendo que entendessem alcachofra
E de fato pelos olhos todos discutiriam alcachofras!
O ar daquele lugar, o calor daqueles relatos
Nada mais me parecia insuportável!
Nem mesmo as crateras escancaradas em meu peito
Nem mesmo a saturação de meus próprios defeitos
Ali, bem lá longe, o distante não era mais o infinito
Porque não havia universo que não fossemos
Não havia coisa, ar, trapos, que nos fosse inviável
Por mais que nada soubéssemos
os sentidos falavam por nós
Por mais que a ignorância seja eterna,
a compreensão era uma questão de coração
De saber de cor cada verso que ainda não foi criado
de ouvir melhor o tom do seu próprio gingado
e mergulhar mais mais e mais fundo
no aconchego de nossos tapas na cara
no conforto de nossas palavras ácidas
no carinho de todo e daquele abraço
E nesse mergulho agarrar bem apertado
as lembranças desses dias encantados
o sabor desse lugar recheado
de lindas conversas sutis

I.G.