sexta-feira, 28 de maio de 2010

amanhã

Medo, metáfora mística
Daquilo que não alcançamos
Peso piedoso e profético
Que nos ombros carregamos

De:Isa Giorgiano

segunda-feira, 24 de maio de 2010

As caras

Tua cara se decompõe
Teu acervo está decorado
Tuas histórias reprisadas
Tua cara se decompõe
Em rosto e face
Teu rosto é sereno
Não sorri, não chora
Não pensa
Tua face é mórbida
Não se move, não se corta
Não experimenta
Tua cara se decompõe
Porém em duas metades iguais
Não se complementam
Não são adversas
Não deixam opção
Onde está a opinião?
São apenas a mesma sucata
Mascarada em diversas mesmices
Tua cara se decompõe
Em milhões de caras
Com os mesmos acervos decorados
Com as mesmas histórias reprisadas
Com a mesma ausência da metamorfose
Tuas mudanças são meras reeleições
Meras votações de um povo acrítico!

De: Isa Giorgiano

Vire-se

As opções
não são nada além
do seu campo de visão

De: isa giorgiano

quinta-feira, 20 de maio de 2010

pobres relatos

Quem diria ou discutiria
as nossas vidas?

quem se importaria?

quem repararia
que toda essa pequenês
reflete mais
do que quaisquer vintém?

Quem se atreveria
a divulgar pelo mundo
o estalar
mágico
Hilário
e ingrato
de nossos pobres relatos?

Quem faria a notória
visão
de que o proveito
não vem dos feitos
não vem dos defeitos
não vem da arrecadação
nem de tamanha produção

feliz desse visionário
feliz do simplismo complexo
do viver por ser
e ser por viver
viver realmente e intensamente
os nossos pobres relatos

De: I. Giorgiano

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A flor de cerejeira

Sempre o mesmo
Cor de rosa, primavera
Que alcança o auge
Do mais belo sentir
Nunca o mesmo
Cor de rosa, cor de anil
Que pra cada um que olha
Se torna um novo timbre
Um novo existir
De que interessa
Se as coisas se repetem
E se os dias são sequências
De um mesmo desejar?
De tudo importa
Que a cada sol que nasce
A vida encontra um novo enlace
E muda tudo de uma vez!
E as pétalas que caem
Tomam caminhos diferentes
Pra chegar ao mesmo chão
Seja esse como for
O que vale é a essência
De cada flor

De: Isa Giorgiano

terça-feira, 11 de maio de 2010

só um ponto

Meus olhos já não pairam mais por aqui
Meus lábios já não sabem mais mentir
Minhas mãos traçam caminhos pelo ar
E sigo-os sem me importar
Cada passo
Cada volta
É um novo desafio
E os meus sentidos brincam comigo
Minha pele intensifica cada arrepiar
E ouso o assovio de seu uivar
Entrego-me no aconchego de seus braços
No reconhecer de seus cheiros
E abraço seu carinho como se fosse embora
E respiro suas palavras como se fossem as últimas
E ouço o salgar de seu suor como se fosse meu
E vejo seu calor como se fosse único
E vai embora, e são as últimas, e é meu e é único
E não há o que se possa fazer
E não há como deter
Que desse encontro
Reste só um ponto
Sinto falta de você

De: Isa Giorgiano

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Os famisedentos

Minha vontade
de sonhar é tão grande quanto a de construir
Meus planos
infundados tão incríveis quanto os viáveis

chega dessa eterna briga entre o ir e vir
entre a razão e os sentidos
chega dessa baboseira de acreditar
que há só um modo de interpretar

Chega de descrença
mas também chega de ignorância
que a sede de aprender
seja sempre apoiada numa fome pelo ser

e que o faminto tenha sede
e que o sedento tenha fome

que a humanidade não dependa
da mudança de eras pra se contrapor
e que fome e sede sejam complacentes
numa eterna busca pela coerência

Percebam a vida que surge
no sabor inesgotável
dessa dor

De: I.Giorgiano

nós e nós

Nas ruas vazias
de onde vim
não havia fome alguma
mas também não havia comida
e também não havia quem comer
nem quem roubar
nem quem perder
nas ruas vazias
de onde vim
havia o nada e o tudo
de ser eu
não havia quem me julgasse
quem me odiasse
não havia quem amar ou conversar
havia uma eterna construção de mim mesma
uma eterna fortificação do meu próprio existir
e de repente dessas ruas saí
e vi povoados
vi florestas
vi o mar
vi fome,doenças e descrenças
vi esperanças persistencias e sonhos
vi então que minha construção
não passava de um telhado
sem rachaduras porém sem paredes
sem manchas porém sem cores
vi que só me conheci
depois de conhecer
o que sou capaz de fazer
num mundo cheio de nós
basta você me dizer
como quer que este seja
cheio dos nossos nós
ou cheios de nossa gente
que entre nós e os nós
deixe de existir a indiferença

De: I.G.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Invisíveis

Escuridão!
abro os olhos...
escuridão!
estou no meio do meu sonho
e ele é nada
quando um sonho é vazio
imagine como não está a realidade
nela,talvez, nem eu mais exista
afinal
não tenho renda
não me alieno em crenças
não faço parte de nada relevante
aos olhos dos que comandam
e ai ?
o que restou dessa vida
de conceitos?
dessa vontade de reajeito
faço parte do nada que é meu mundo
pra eles
e do tudo que ele é pra mim
faço parte dos sorrisos que ainda ouço
dos olhos que ainda brilham
nessa luta sem fim
que começa aqui...
Como existem planos
invisíveis assim?
AH! Que toda essa gente
seja transformada
em algo muito mais louvável
que esse triste confim!
Que virem céu
mar
que voem e proclamem
pra todas as mentes
seu modo de pensar
E que esses misturados
criem algo
mesmo que errado
que consiga caminhar
numa direção inesperada
dos novos passos
aos bagaços!
Que o invisível
vire o indignado!
E viva à tudo que está sendo ignorado!

de isa giorgiano