sábado, 27 de outubro de 2012

Rio de Janeiro

O fedor tomou até o tato
e a visão seleta
causo-me má impressão
mas atrás do primeiro muro
vinha o primeiro dos mundos
que eu viria a perceber
o garoto soltando pipa
a moça se achando bonita
o homem pedindo birita
e o velhote sentado na esquina
sem ter maiores porquês
e depois de uns dois, três passos
vem o antigo, o restrito, o legado
a história vive por entre os camelôs
e os meninos picham a careca do senhor
gente na labuta, gente carrancuda
gente sorridente, vi até presidente
gente faminta, gente extinta
mais gente que gentileza
mais gente que genuinidade
mais gente que  jenipapo
e passa o ônibus, o metrô
o trem, a balsa, a bike
o dia, a noite, a madrugada
homem pássaro
homem árduo
homem desarmado
perante as regras da espontaneidade
As ruas contrastam com os gramados
e os prédios com os morros
E fora os alvoroços
ainda se vê um certo esforço
pra que a vida não se perca entre os pilotis
pra que as praias sejam mais que cartões postais do país
e a vista por todos os lados é bela
distinta, esplêndida, tagarela
Virando a  ruela
vai-se do agito à mansidão
debruçando na janela
do corrido ao coração
na deriva corriqueira
do olhar peneira
faz-se uma leitura grosseira
que vai da comida a capoeira
em uns três ou quatro colibris
Das impressões tão belas
sobram parcelas
de alguns gestos de amor
e acende-se uma vela
pra que atrás dessa cidadela
não morra o sonhador.

I.G.

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