domingo, 9 de outubro de 2011

Casa encantada

Tínhamos ali a leveza das conversas sutis
Sem compromissos, sem amarras, sem patrocinadores
Cada palavra era como que inata
Vinha de dentro do umbigo de nossas concavidades
Vinha do gole de vinho com suspiros intercalados
Era corrente e inteligível até mesmo nos silêncios
Era a pureza do sinfônico
Uma mistura fascinante das fontes do espontâneo
Ali, bem ali, por alguns muitos instantes...
Poderia eu dizer abobrinha querendo que entendessem alcachofra
E de fato pelos olhos todos discutiriam alcachofras!
O ar daquele lugar, o calor daqueles relatos
Nada mais me parecia insuportável!
Nem mesmo as crateras escancaradas em meu peito
Nem mesmo a saturação de meus próprios defeitos
Ali, bem lá longe, o distante não era mais o infinito
Porque não havia universo que não fossemos
Não havia coisa, ar, trapos, que nos fosse inviável
Por mais que nada soubéssemos
os sentidos falavam por nós
Por mais que a ignorância seja eterna,
a compreensão era uma questão de coração
De saber de cor cada verso que ainda não foi criado
de ouvir melhor o tom do seu próprio gingado
e mergulhar mais mais e mais fundo
no aconchego de nossos tapas na cara
no conforto de nossas palavras ácidas
no carinho de todo e daquele abraço
E nesse mergulho agarrar bem apertado
as lembranças desses dias encantados
o sabor desse lugar recheado
de lindas conversas sutis

I.G.

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